Daniel Campos

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07/02/2012 - O pássaro e o avião

Não há pássaro mais sem graça que o avião, que voa sem bater as asas. Aquela movimentação curvilínea das asas é o que rende a coreografia ao pássaro. O voo rígido e mecânico de um avião está longe de permitir um balé nos céus. Além disso, o avião não faz ninho, tampouco migra de acordo com o clima. O pássaro de aço é estéril e não se relaciona com seus pares. Leva pessoas, mas não se leva para lugar algum. Aliás, não tem destino próprio. É um escravo sem direito a nome. É chamado por siglas e números. Não troca penugem, tampouco se apaixona.

O avião não canta, não assovia, não estrala. Embora seu ventre esteja lotado de equipamentos eletrônicos não há nada de musicalidade no voo de um avião. Ele não se guia pelo sol, mas pelos ponteiros. Além disso, é de uma indelicadeza ao não levar em consideração o rumo do vento. Ao contrário dos pássaros, arautos da liberdade, o avião precisa de autorização para pousar e decolar. Enquanto o avião vira sucata, um pássaro, quando morre, se transforma em canto. É como se sua alma fosse liberta da casca e seu canto continuasse pelo ar num voo eterno.


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