Daniel Campos

Texto do dia

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19/06/2009 - O palco das trincheiras

São tantas guerras espalhadas por aí. São tantas trincheiras abertas. A cada novo passo, é preciso redobrar o cuidado. Não se sabe quantas covas um jardim florido é capaz de esconder. É uma guerra fria aqui, uma guerra quente ali, e uma guerra morna acolá. Em meio ao silêncio pesado tem tanta gente gritando Mãe, Oxalá, Alá. Ai deus, quando é que isso tudo vai acabar!? Os corpos estão sujos, lambuzados ora de sangue ora de lama. Quem morre na guerra é herói ou bandido? Olha lá um fuzil cantando em fá sustenido... De quem será o primeiro gemido?

Eu quero partir... Qual o horário do próximo trem? Vem, eu estou naquela mesma estação, de chegadas e partidas. Quantas vidas cabem em cada vagão? Eu tenho a minha e mais algumas abarrotadas na mala. E se na hora que pedirem meu bilhete eu entregar um ramalhete, o que a vida me dirá? Pode ficar, pode pular, pode apitar a locomotiva... Eu quero comer trilhos como quem come um prato de arroz com feijão depois de um dia inteiro de lida. Eu quero partir e ver o que se esconde atrás da próxima curva. Será uma raposa ou um cacho de uva?

Não importa o que eu vá encontrar pela frente, quero fugir dessa guerra sem rosto, sem gosto, sem encosto, logo atrás do último rei posto. Entrego minha coroa e meu cetro para quem quiser enfrentar o dragão que paira sobre esse campo de batalha. Não quero mais escutar o choro da dor, o grito da fome, a súplica do amor partido ao meio pela espada do tempo. Do tempo da pólvora, do tempo dos cadáveres, do tempo dos mártires martirizados ao léu. Eu quero um outro céu nem que para isso eu precise interpretar um novo papel.


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