Daniel Campos

Texto do dia

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03/04/2012 - O mistério da figueira

No domingo, o Rei entrou na cidade de Jerusalém e foi saudado por ramos. Na segunda, Maria ungiu Cristo no banquete de Bethânia. A quarta é das trevas. Na quinta aconteceu a última ceia. Na sexta, a crucificação. O sábado é de aleluia. E domingo, de Páscoa. Mas e hoje, terça-feira da Semana Santa, o que aconteceu há quase dois mil anos? A maldição da figueira.

Jesus teve fome. Na semana dedicada ao jejum, Jesus teve fome. Ao avistar uma figueira à beira de seu caminho foi até ela, mas não encontrou fruto algum. O filho de Deus não pensou duas vezes antes de amaldiçoar a figueira. A árvore secou imediatamente. Até os discípulos ficaram admirados diante de gesto tão radical. Um gesto que não combina com o Jesus paz e amor cultuado hoje.

Há várias interpretações para tal gesto. Dizem que Jesus quis apenas deixar claro aos que o seguiam que se ele quisesse, teria poder para exterminar seus inimigos. Dessa forma, só morreria porque aceitava morrer. Falam também que a figueira estéril é um símbolo do judaísmo. Cristo, dessa maneira, não havia encontrado frutos na Sinagoga.

Para além do ângulo eclesiástico de que o episódio da maldição da figueira representa o poder infinito de Jesus e Israel como uma Nação sem frutos de arrependimento, eu ouso afirmar que essa atitude humaniza o filho de Deus demonstrando revolta, indignação e medo. Jesus não queria morrer. Ele precisava fazer isso, mas tinha conflitos interiores relacionados à aceitação de seu destino.

A maldição não vingou e as figueiras continuam exibindo frutos. Será que Jesus se arrependeu de seu ato e voltou atrás? Será que Deus, o criador de todas as árvores, repreendeu o filho e devolveu a vida às figueiras? Será que Iroko, o orixá senhor do tempo que habita as figueiras, junto com a pomba-gira das figueiras e outros tantos espíritos, quebrou a maldição?

Mais de dois mil anos os figos continuam deliciosos e a história da figueira amaldiçoada segue repleta de mistério. Aliás, na Semana Santa celebramos o mistério e os mistérios de Cristo.


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