20/02/2009 - O Air bag do amor
Wilson estava dentro da concessionária, praticamente com a chave do carro novo na mão, mas resolveu esperar um pouco mais. O vendedor ficou louco da vida e Wilson, radiante de felicidade. Depois de toda papelada pronta e aprovada, só faltando assinatura, Wilson pulou para trás. E tudo por conta de um telefonema da sua esposa. Ele já estava empunhando a caneta quando o telefone tocou. Checou o visor, era Inês, a mulher que nos últimos meses merecia todas suas juras de amor. O amor era demais, não podia esperar. E se tivesse acontecido alguma coisa com ela? Pediu desculpas ao vendedor, e atendeu sussurrando.
Do outro lado, estava enlouquecida. Gritava para ele parar. Gritava "não compra", "não compra". Sem entender nada, Wilson pedia calma. Como a situação era desesperadora, levantou-se e deu quatro passos da mesa. O vendedor ficou olhando, mas não se importou. Faltava pouco para colocar a comissão da venda de um carro zero no bolso. Já pensava o que ia comprar com ela. Fazia contas e mais contas na grande calculadora que enfeitava sua mesa. Quando Wilson finalmente conseguiu entender o que Inês queria dizer, guardou a caneta no bolso, perguntou para a copeira que horário passaria o próximo ônibus e marchou em direção ao vendedor. "Esse carro tem air bag?", perguntou ao vendedor, que tremeu.
"Não! Embora o senhor esteja adquirindo um carro novo, de última geração, o air bag é oferecido só nos modelos mais luxuosos e caros". "Era!!!!", gritou um Wilson indignado. E toda essa revolta porque sua namorada lhe avisara que os deputados assinaram uma lei garantindo air bag para todos os carros zero quilômetro. O vendedor tentou argumentar que o preço iria subir, que ele perderia a oportunidade, que ele não podia comprar um carro pensando no pior. Mas de nada adiantou, o telefonema foi o bastante para Wilson sair a pé da concessionária sonhando com aquela bolsa branca explodindo sobre seu rosto no momento da batida. E em retribuição ao amor da mulher, bateria o carro novo quando ela estivesse no banco do passageiro. E quem sabe da explosão do air bag não nasceria um beijo, um casamento, um filho...
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