Daniel Campos

Texto do dia

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28/04/2009 - Novos tempos

Acabou-se a época da pipoca cor-de-rosa, do algodão-doce e da maçã do amor. Tudo se perdeu no caminho de dentro. Os circos se foram pela estrada afora, assim como os parques e os teatros de boneco. O cata-vento já não cata mais vento. O balão de gás murchou como rosa ao sol. E o palhaço já lavou a cara. O cachorro-quente latiu. Da trapezista só restou um vestido trapézio. O equilibrista se desequilibrou. A montanha russa agora só fala inglês. A xícara louca foi trocada por um copo descartável. O barco viking naufragou. Os patos do tiro ao alvo morreram todos. A roda gigante parou. O peão fugiu com a rainha. E a banda se calou para sempre. As crianças cresceram. Os adultos adoeceram. A realidade e o tédio venceram. Os namorados já não passam mais de mãos dadas. Os lampiões foram trocados por luzes de néon. Os elefantes tomaram o caminho do cemitério dos elefantes. O circo de pulgas foi-se apresentar em algum vira-lata e nunca mais voltou. E a maria-fumaça, depois de tantos trilhos e estações, deixou até de ter fumaça. A bruxa comeu João e Maria. Bela Adormecida foi enterrada viva. Branca de Neve envelheceu. O lobo mau teve leitão na ceia de Natal. E o gato de botas fugiu do próprio chulé. E o mundo, sem sorriso, se deixou ficar entre a cruz e a espada.


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