Daniel Campos

Texto do dia

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05/02/2009 - No balançar da rede

Quero duas árvores a uma distância paralela de dois metros e alguns centímetros. Preferencialmente, árvores com copas bem revoltas, cujas folhas se enroscam em pleno ar. Que as folhas estejam bem verdes e, consequentemente, frescas. E que esse frescor possa ser sentido por quem está no solo. Que as árvores não sejam robustas ou franzinas demais, mas na medida certa para suportar o peso dos meus sonhos. E olha que eles pesam muito. Quando essas árvores estiverem alinhadas, quero uma rede.

Quero uma rede macia, com a mais simples e complexa aerodinâmica que possa existir, acionada pelo vento. Ah! Quero muitos ventos. Ventos lestes, noroestes, sudestes, laterais e conjugais. Ventos a bombordo e a estibordo. Quero uma verdadeira ventania que seja capaz de me levar a loppings em torno de minha órbita. E que os ventos, mesmo longe do mar, sejam úmidos e levemente salgados. Ventos doces combinados com o balançar das redes podem causar enjôos. E tudo o que eu não quero é enjoar dessa vida.

E quando árvores, sombra, rede, ventos e loppings estiverem prontos, quero a mulher amada suspensa em seu eixo gravitacional. Que a mulher amada deite em meu peito e balance suas poesias mais cotidianas pelos confins da rede. Que a rede não seja o veleiro, mas a vela que nos leva para mares desconhecidos. E eu quero desconhecer mais e mais a mulher amada só pelo prazer de descobri-la a cada novo balançado. E que a rede, mesmo não sendo de pesca, nos capture como um pacto, como uma jura, como uma aliança flutuante.


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