Daniel Campos

Texto do dia

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10/07/2009 - Nem aí pra nada

Hoje eu não estou nem aí pra nada. Hoje eu quero sentar na calçada e ver o dia passar. Quero me internar em um sonho bom deixando o mundo rodar sozinho pelo salão. Hoje eu só quero ler as narrativas das nuvens ou das bolas de sabão. Hoje eu quero ficar ao tempo sob risco de pegar resfriados e ferrugens. Hoje eu quero esperar a lua crescente crescer em minhas mãos, entre os vãos de um outdoor néon. Hoje eu não estou pra brincadeira, aliás, estou pra lá da canseira.

Hoje eu não corro de cachorro bravo, não me escondo de bandido, não tenho medo do perigo, estou fechado pra balanço. Não quero nem saber se avanço ou se danço. Hoje eu não quero saber de serviços, de trabalhos, de esforços pequenos ou sobre-humanos. Hoje, o ócio é o meu negócio, o meu plano. Hoje eu quero me acabar de não fazer nada. Hoje eu quero me perder como asfalto ao longo da estrada. Hoje eu quero ser leve como versos de poema na boca da mulher amada.

Hoje eu quero poupar palavras. Hoje eu quero mandar ordens às favas. Hoje eu quero consumir o mínimo possível de mim. Hoje eu não quero saber do macro, do micro, nem do tin tin por tin tin. Hoje eu quero distância de telefonemas, dilemas, temas dispendiosos. Hoje eu quero me alimentar de luz, me vestir de vento e esticar ao máximo o meu momento à toa. Hoje eu estou como pássaro que tem asas, mas não voa. Hoje eu estou como marinheiro em alto-mar que não sai à proa estrelada. Doa a quem doer, hoje eu não estou nem aí pra nada.


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