Daniel Campos

Texto do dia

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27/09/2009 - Na banca de seu menino

Na banca do seu menino tem pé de alface do verde e do roxo, do liso e do crespo, do caipira e do americano. Na banca do seu menino tem banana prata, maçã, ouro, nanica e um amontoado de mexerica. Na banca do seu menino tem uva rosa, manga rosa e um pé de rosa sem flor. Na banca do seu menino tem uma salada de fruta e de cor, e uma saudade matuta que castiga o coração. Na banca do seu menino tem tudo o que não se encontra na cidade. Tem até um solo de gaita, da gaita do meu sertão de taipa.

Na banca do seu menino tem cheiro verde, cheiro amarelo, cheiro vermelho. Uma aquarela de cheiros fugida da janela de uma dona sinhá. Na banca do seu menino tem óleo de dendê, óleo de mamona e óleo de jacarandá. Na banca do seu menino tem arroz sorte, pêssego do norte, melancia de corte. Na banca do seu menino tem feijão de lata, pata de vaca e um punhado de alfavaca. Na banca do seu menino tem mel de laranjeira e conversa de feira. Fala daqui, fala dali, fala caqui, pequi, kiwi, abacaxi e sorri de tanta besteira.

Na banca do seu menino tem batata inglesa, tomate italiano, pepino japonês e feijão carioca. Na banca do seu menino tem tudo de bom pra se fazer uma boa paçoca. Na banca do seu menino tem fumo de corda e orvalho de quando se acorda. Na banca do seu menino tem pimenta que sobe pelas ventas. Na banca do seu menino tem milho e fubá pra se mexer uma boa polenta. Na banca do seu menino tem manjericão e coração orgânico batendo sem veneno, sem pânico, num sentimento mediterrânico.

Na banca do seu menino tem aipim, mandioca e macaxeira. Na banca do seu menino tem coisa de primeira. Na banca do seu menino tem tempero e muito esmero. Na banca do seu menino tem galinha poedeira e de caçarola, jabuticaba, mangaba e amora. Na banca do seu menino tem polvilho e um cesto de estribilho pra viola e violão. Na banca do seu menino tem comitiva e estradão. Na banca do seu menino tem rama de hortelã, pó de romã, semente de erva-doce e tudo mais que o campo nos trouxe.

Na banca do seu menino tem arranjo de sempre viva e azeite de oliva. Na banca do seu menino tem chapéu de palha, marca de sol e muita tralha. Na banca do seu menino tem rabanete, sabão de soda, feijão de corda, molinete e enfeite de cipó. Na banca do seu menino tem alpiste, painço e curió. Na banca do seu menino tem arapuca e remédio pra cuca. Na banca do seu menino tem cana de açúcar e tarrafa bem trançada, laranja e laranjada. Na banca do seu menino tem arroz de canja, cebola de franja e enxada amolada.

Na banca do seu menino tem guarda-chuva e uva parda. Na banca do seu menino tem beterraba e criança aguada chorando perdida da mãe. Na banca do seu menino tem uma gente que se procura, rapadura e queijo meia cura. Na banca do seu menino tem couve picadinha e galo de rinha. Na banca do seu menino tem coisas de Minas e um embornal de alegrias e tristezas repentinas. Na banca do seu menino tem goiaba madura, réstia de alho, bugalhos e formosura.

Na banca do seu menino tem café em grão, café moído, café torrado e um calo doído na mão. Na banca do seu menino tem melão, limão, agrião, guiné e pé de moleque. Na banca do seu menino tem reza e romaria atrás dos milagres da roça. Na banca do seu menino tem o desejo de morar em uma palhoça. Na banca do seu menino tem oração de São Crispim e capim que coça. Na banca do seu menino tem gente que entra e gente que senta e gente que almoça e até gente que se alvoroça.

Na banca do seu menino tem um pé de bem-me-quer e o amor de uma mulher que não vai nem vem. Na banca do seu menino tem a banca de sinhá menina. Na banca de sinhá menina tem olhos de manacá e um jeito de olhar de estrequinina. Na banca de sinhá menina tem ares de colina, romantismo de esquina e quilos de adrenalina. Na banca de sinhá menina tem canjebrina, carabina e uma luz que alumina. Na banca de sinhá menina tem volteios e ponteios de bailarina. Na banca de sinhá menina tem disco de clementina, poema em compota de cora coralina e história de colombina. Na banca de sinhá menina tem vacina e vitamina. Na banca de sinhá menina tem um beijo de rapina, que quando na boca de seu menino tem efeito de morfina. Ah!... Na banca de sinhá menina...


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