20/05/2009 - Hoje, só hoje
Se eu pudesse, não teria amanhã. Encerrar-me-ia hoje, no dia de agora, mesmo que para isso precisasse andar em círculos por toda a eternidade que me resta. O amanhã me traz mensagens codificadas, situações não alinhadas, uma vida ainda não versada. E eu tenho medo do que se esconde por baixo dos véus que cobrem o amanhã cedo.
Que Cronos, o deus tempo, tenha piedade e quebre o relógio do meu hoje, no último segundo deste dia. Amanhã poderá ser tarde demais. Aliás, amanhã sempre é demais em matéria de perigo. Amanhã é o dia não nascido. Prefiro enraizar-me no hoje, sugando ao máximo suas terras e putrefando-me junto dele na metamorfose do passado.
Morro hoje. Enterro-me hoje. Ponto o meu final hoje. Porém, não permitam que o amanhã me carregue. Não adianta me seduzir com um dia, somente um dia a mais. Cansei de jogar e jogar-me, de apostar e apostar-me, de viciar e viciar-me em promessas diárias. Como capitão do meu tempo, ancoro-me no hoje. Nem mais uma onda. Hoje eu sou, hoje eu tenho, hoje eu venho. Amanhã, amanhã eu não me conheço.
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