02/03/2009 - Faz-te
Faz isso. Faz aquilo. Faz aquilo outro. Tornamo-nos fazedores. Ao contrário de pensadores ou sonhadores, fazedores. Nos turnos da noite e do dia, ao som do apito das fábricas da feitura, vamos fazendo. Todo nosso intelecto vem sendo desperdiçado pela ofensiva da prática pela prática. Tudo deve ser feito num prazo mínimo. É uma fazeção danada pra lá e pra cá. E o pior é que isso não leva a nada. Ao menos, não para os fazedores. Pensar e sonhar tornou-se privilégio de pouquíssimos. A massa deve se dar por satisfeita em fazer por fazer.
Dizem que o tempo passa mais rápido, no entanto, hoje em dia faz-se muito mais coisa do que antigamente sob a mesma rotina dos relógios. E tempo, até agora, ninguém conseguiu me provar que faz. São vinte e quatro horas e só, nenhum feitio a mais. A vida empregatícia pede para fazer isso. A vida pessoal pede fazer aquilo. E a sociedade pede para fazer aquilo outro. Quando você percebe, anda fazendo muito para os outros e nada, absolutamente nada, para você. Essa é a nova lógica da exploração - fazer, fazer, fazer ao ponto de se desfazer.
Fazer. Fazer. Fazer. Eu já ando cansado deste verbo em meu cotidiano. Meus ouvidos já não agüentam vai escutá-lo. E, pela lógica, fazer não é acontecer. O ato de viver está muito além de o simples fazer. Fazer sem coração. Fazer por obrigação. Fazer automaticamente e mecanicamente e inconscientemente. Fazer desnecessariamente. Fazer inutilmente. Fazer sem alegria. Fazer sem usar da fantasia. Fazer um dia depois de outro dia. Há vida mais sem sentido do que a do fazer por fazer? Por que ninguém diz: para o que estas por fazer e faz-te?
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