26/02/2009 - Eu quero virar hippie
É hora de ir ao batente. É dia de branco, é dia de negro. Carrega pedra pra lá, quebra pedra pra cá. O trabalho não pára para quem trabalha de viver. Profissão: ser vivo. E ser vivo dá trabalho para valer. Tem que comer, tem que dormir. E para comer tem que ter comida. E para dormir tem que ter casa. E para ter comida e casa tem que ter dinheiro. E para ter dinheiro tem que suar. Suar de tanto trabalhar.
É preciso deixar de beijar pra trabalhar. É preciso deixar de ler pra correr pro trabalho. É preciso deixar a cama pra puxar cascalho. É preciso deixar de cochilar pra trabalhar. É preciso deixar de pescar pra trabalhar. É preciso parar de viajar pra trabalhar. É preciso deixar de escrever pra correr pra repartição. É preciso deixar o amor pra ganhar o pão. É preciso, pra trabalhar, calar o coração. Ao contrário do coração, o que bate é o ponto.
Quantos dias perdidos fazendo algo que não se gosta. Quantos sapos engolidos. Quantos desejos sufocados. Quantos sonhos adiados. E sempre há um patrão que tem jeito de bicho-papão. E são tantas chicotadas no lombo nosso de cada dia como burros de carga. Ah! Eu quero virar hippie. Hippie vive de cantoria, de poesia, de fantasia. Hippie se alimenta do sol e mora num dos quartos da lua. E o seu dinheiro é o tempo, é o tempo, é o tempo...
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