17/06/2009 - Eu ainda vivo
Eu ainda estou vivo! Eu ainda estou vivo!! Eu ainda estou vivo!!! Brado em alto e bom som. No entanto, todos parecem surdos. Todos, na verdade, se fazem de surdos. Pudera, todos os que me rodeiam, como ratos famintos, querem comer o pouco que consegui juntar em anos e anos de lida. Malditos esses ratos que nunca me ajudaram, que jamais se esforçaram por nada, que sempre viveram a morder meus calcanhares. Ratos que nunca se contentam, eu ainda vivo. Eu ainda sou o rei de Roma, aquele em que os ratos brigam, até mesmo, para comer suas vestes.
De nada importa minhas histórias, minhas memórias, meus sentimentos. Todos só pensam nos proventos do vil metal. Terras, casas, jardins, animais, emoções são apenas cifras nos olhos de pedra dos que me rodeiam. Malditos! E eu achei que eles fossem carne da minha carne. Mas se até deus, que fez o homem sua imagem e semelhança, teve de assistir a humanidade se transformar em ratos e ratazanas, o que poderei dizer? Ah! Se eu fosse como eles, cercar-me-ia de ratoeiras. Mas eu já não tenho forças, tampouco sou frio e calculista como eles...
É como se eles me devorassem vivo. Dói no corpo e a alma. Eles vão abrindo buracos em minha pele com dentes e garras e se embrenhando por minhas vísceras, por meus órgãos vitais. De que adiantou trabalhar, lutar, sonhar para ter de perder tudo agora. Eu ainda estou lúcido, mas querem me interditar. Eu ainda tenho nome, mas querem tomar posse dos meus sonhos. Eu ainda tenho vida, mas se depender dessas criaturas ambiciosas logo serei apenas um cadáver, sem identidade, sem bens e sem dignidade. Já mataram meu amor, já sujaram minha honra, já me vêem morto.
Mas, ao menos quando morto, irão me deixar em paz. E é somente isso que me conforta. Isto é, se não começarem a derramar sobre mim lágrimas frias e remorsos hipócritas. Malditos ratos, eu ainda vivo!!!
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