Daniel Campos

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21/09/2009 - Esconderam-me de Aznavour

Foi uma pena. Charles Aznavour apresentou-se pela última vez em Brasília e eu não soube da notícia a tempo. Queria ter visto o cantor, ator e letrista, aos 85 anos, em sua turnê internacional de despedida. Vê-lo cantar agora, só em solo europeu. E eu não tenho planos de cruzar o Atlântico. Assim como ele, digo-me cansado para longas viagens. Depois de atuar em mais de 60 filmes, de compor 850 canções (em francês, inglês, italiano, espanhol e alemão), de vender mais de 100 milhões de discos, Aznavour despede-se da América.

Se a mídia falasse menos em tragédia-política e mais em arte, eu saberia que ele estaria cantando sucessos como She, La Bohême, Ave Maria e Les émigrants no palco do Centro de Convenções. Mas o noticiário se incumbiu de boicotar a minha ida ao show, falando em trânsito, em roubos, em assassinatos, em corrupção, em placar de futebol. Definitivamente, esconderam-me de Aznavour. Ainda liguei atrás de uma possível segunda noite de espetáculo, um inesperado bis, mas ele já tinha voado para Buenos Aires.

Foi, sem dúvida, uma despedida relâmpago, assim como sua carreira. Da última apresentação do artista que começou a atuar aos 9 anos, foi descoberto e apadrinhado por Edith Piaf e sagrou-se o "artista do século" por meio de uma pesquisa da revista Time e da rede CNN sobraram apenas ecos pelas ausências de esquinas de Brasília. Mesmo a contragosto, tive que me contentar em encontrá-lo apenas nas faixas do álbum que tenho em casa. Infelizmente, esse é o mais perto que poderei chegar de um artista que, elegantemente, renuncia ao seu público.


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