14/06/2009 - Dormência
Dorme, dorme criatura amada. Deixa seus cabelos escorrerem pela rosa dos ventos do travesseiro. Dorme de leste a oeste, num sono largo. Dorme de norte a sul, num sono longínquo. Dorme e deixa as pétalas de sua boca se fechar como um botão. Dorme e me permita contemplar seu sono e me imaginar em seus sonhos. Dorme à luz das velas que acendi para pedir sua mão aos santos. Dorme, dorme como quem some. Dorme ao perfume da dama da noite que passa pelo jardim. Dorme enquanto eu lhe conto da minha fome. Dorme ao som dos cochichos de seus vestidos dependurados no cabide. Ah! Como eles conversam.
Dorme e se entrega aos mundos secretos. Dorme e se permita brincar de roda com os pagãos. Dorme e seja carregado por espíritos para um casebre no meio do céu. Dorme e tatue seu corpo no lençol. Dorme em carne e pensamento. Dorme enquanto meu olhar lhe come. Dorme e descubra o sexo dos anjos. Ah! Conta-me como eles se abraçam, como se beijam, como se desejam. Dorme, dorme como que esquecendo o próprio nome. Dorme, mas me olha com olhos fechados. Dorme abraçada com sua boneca preferida ou com as unhas cravadas em meu corpo, entre sussurros e carícias. Dorme e se mexa como num bolero. Ah! Como quero o seu sono para mim.
Dorme despida, como estrela atrevida que se decompõe na escuridão. Dorme e me dê a oportunidade de duelar com seu pior pesadelo. Dorme na toada de um eu te amo, que soa, ecoa e ressoa em volta de sua cama. Dorme como um pássaro que encolhe as asas para voar de outra maneira. Dorme como a mais indefesa das criaturas. Dorme enquanto eu amordaço o galo da manhã e escondo a luz do novo dia debaixo dos tapetes. Dorme num conto de fadas porque a última bruxa já morreu na ponta da minha lança. Eu, cavaleiro da sua távola criança. Dorme intensa e desesperadamente nesse amor dormente. Dorme como girassol que pende e se rende ao amor do sol.
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