29/01/2009 - Deusa do amor
Bons tempos em que andávamos tranquilamente pelas ruas. Tempos em que o passo corria solto, ao ritmo do vento e da paisagem. Hoje, o passo é rápido e inseguro. Caminha-se entre o medo do assalto, o estresse do relógio e os distribuidores de panfleto. Ofertas de trabalho fácil, promoções de lojas, divulgação de serviços... Ontem, recebi um panfleto de fundo branco e letras vermelhas, intitulado - "Deusa do amor". Além das letras, um anjo também vermelho se espremia por lá.
Quem seria a deusa do amor? Afrodite? Vênus? Freya? Nem grega, nem romana, nem nórdica, mas brasileira. Quem falava em nome da tal deusa era uma astróloga-vidente e atendia pelo nome de Dona Clara. Dizia revelar passado, presente e futuro a partir de búzios e tarô. Contra problemas amorosos, prometia trazer a pessoa amada em sete dias. Agora, se os males fossem financeiros, não havia problema - ela, depois de anos de trabalhos junto à deusa do amor, acumulou contato com outras deusas, entre elas, a da fortuna.
Dona Clara era uma verdadeira empresária sentimental. Para estender de vez sua atuação, dava um jeito em problemas familiares, vícios, negócios falidos e até em impotência sexual. Aproveitando-se das crises internas e externas, sentimentos e crenças foram transformados em negócio. E diante do estado de desespero de uma sociedade cada vez mais sem tempo de se auto-conhecer, este tipo de negócio torna-se uma grande fonte de lucro. Resta saber a porcentagem que é passada para Afrodite, Vênus, Freya...
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