13/09/2009 - Detrás do mundo
Peço desculpas aos leitores pelo atraso em postar o texto de ontem (só postei a noite, em razão da falta de estar em um ambiente sem internet). Bom domingo!
O velho homem olha o céu e pergunta se já é chegada sua hora. Mais do que ansioso, está pronto. Tinha, dentro de si, a certeza de dever cumprido. Embora não tivesse conseguido realizar todos os seus sonhos, viveu a contento. A sua maneira chegou à maturidade com honra e belos momentos para relembrar. Podia ter feito melhor uma coisa ou outra, mas caminhos não voltam. Por tudo isso, lançando olhares solitários ao céu, assuntava sua partida.
Não foi preciso fazer malas. Ao contrário, nos últimos anos o que fez foi desfazer de suas coisas. Poucas mudas de roupa e um teto foi tudo o que lhe sobrou. Já não trabalhava mais. Já não namorava mais. Já não criava ninguém mais. Nem gente nem bicho. Por se sentir desobrigado de todos e tudo, sentia-se livre e preparado para sumir do mundo. Com o gosto dos últimos adeuses ainda amargando na boca, não queria se despedir de quem ficou.
Pedia diariamente aos céus para que, quando chegasse sua hora, sua passagem fosse rápida e silenciosa. Não queria dar trabalho a ninguém. E acreditava que depois de tanto sacrifício e castigo, sobretudo o da solidão amorosa que caiu sobre suas costas nos últimos anos, não haveria mais conta alguma a acertar. Mas a palavra final não pertence a ele. Sendo assim, o velho homem, sustentado por muletas e pela vista fraca, conversa silenciosamente com os céus, de chapéu de feltro e cravo vermelho na lapela.
É assim que espera embarcar no trem com destino a detrás do mundo.
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