11/06/2009 - Descansar em paz?
Muitos pensam que a morte é o começo de uma fase maravilhosa: o descanso eterno. Não é por acaso que muitos velórios e missas de sétimo dia são povoados pelos votos de "descanse em paz". Não cabe agora entrar no mérito se essa fase existe mesmo ou não, mas questionar quando é que as vítimas da queda do avião da Air France vão poder gozar de um pouco de paz. A mídia e as autoridades não dão sossego aos mortos, pelo contrário, espetacularizam a dor e disputam corpos e pistas.
Todo esse vespeiro em torno das causas e conseqüências que circundam o acidente aéreo é o que se pode chamar de "chorar pelo leite derramado". Infelizmente, ninguém vai ressuscitar. Gastar-se-ia menos tempo, menos dinheiro e menos sofrimento se as vítimas fossem deixadas ao mar. De que vale resgatar corpos em franca decomposição para análises de DNA? Tudo isso só vai prolongar o sofrimento dos vivos e dos mortos, que, com esse alvoroço todo, não conseguem se desligar do plano terreno.
É muito mais justo e digno com aqueles que morreram e com os que estão sofrendo a dor da perda deixar as vítimas em paz. Não há nada de pecado nisso, já que civilizações antigas entregavam seus mortos às águas profundas do oceano. Plasticamente, eu acho esse funeral mais bonito do que enterrar aqueles caixões horrorosos debaixo de sete palmos de terra. Sentimentalmente, considero uma dor desnecessária o ato de reconhecer um corpo que já não é passível de reconhecimento. Que as flores, que as orações, que as lágrimas sejam lançadas ao mar. E que entre as ondas do tempo, os mortos possam, enfim, descansar em paz.
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