01/08/2009 - De tudo um pouco
Uma pilha de sacas de 60 quilos de arroz e feijão amontoada sobre uma geometria de ripas de madeira. Um aglomerado de vassouras, cuidadosamente trançadas e amarradas, suspenso em arames. Uma perua verde bebê, ano 1968, praticamente da família, tratada como se fosse uma espécie de cachorro. Uma boa quantidade de prateleiras guardando um pouco de tudo. Produtos de limpeza, comida de passarinho, tachadas de sabão de soda, motor de irrigação, porcas e parafusos, vasos, fios, jornais, sementes, varas, anzóis, retalhos, bibelôs, ferramentas, peças mil, veneno, cachos de banana, coleiras, botões, calotas, ardósias, pincéis, rolos, latas de tinta e de óleo de fritura.
Definitivamente, a garagem de Dona Adélia era uma bagunça. Porém, uma bagunça organizada da qual cuidava com todo zelo. Além de varrer, jogar água e esfregar com sabão em pó o piso de cimento, todo borrado de óleo, uma vez a cada mês ou dois meses tinha a famosa limpeza. Eu, no alto dos meus dez anos de idade, participava ativamente deste evento. Seu Líbio tirava a perua e a arrumação começava, descendo caixas e badulaques. E era uma festa quando apareciam as baratas e os camundongos. Davam-se vassouradas para todo lado. Algumas até iam parar lá na calçada, despertando a curiosidade dos vizinhos.
Havia também as discussões do casal que se desentendiam em relação a jogar ou não uma coisa fora. Ambos queriam guardar o máximo de coisas possível. Ninguém queria se desfazer de nada. E eu, do alto da minha meninice, descobria um mundo novo a partir daquelas quinquilharias. O trabalho era duro, o suor escorria pelo rosto, a roupa se sujava toda, mas, no final das contas, arrumava, na verdade, vários sorrisos para colocar no rosto. Há muito tempo entro naquela garagem só de passagem. Das últimas vezes notei que ela está, inclusive, mais vazia e sem graça. Coisas de um tempo que foi levando com ele de tudo um pouco.
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