Daniel Campos

Texto do dia

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14/08/2009 - Corredeiras

Minha vida é um barco, correndo feito flecha lançada de um arco. Vou descendo rios, corredeiras, cachoeiras. Vou a favor do vento, nos braços da correnteza. Vôo pelas águas, entre peixes e albatrozes. Vou rasgando a crista das ondas, observando o lançamento da última sonda espacial. Será que vamos chegar até Marte? Será? Será ou não será, não me importa. Quero apenas fazer um oceano deste gole d`água que me desce à garanta.

Em cada igarapé, eu reforço a minha fé. Em cada igapó, meu peito dá um nó. Em cada lençol d`água eu afogo uma mágoa. E assim vou indo, sumindo pelo aguaceiro. Como as águas correntes eu não tenho paradeiro. Vou pelas barbas de Netuno. Conheci Iemanjá, Iracema e as Oceânidas. Corro na saliva das bocas, no sereno da noite, no orvalho da manhã. Vou de guelra em guelra, numa terra aquática. E nesta guerra de amores, só tenho medo da rede dos pescadores.

Já assisti corrida de cavalo marinho. Já sorri de peixe palhaço. Já me vesti de azul marinho. Já dei tombo em tubarão. Já brinquei com golfinhos. Já me deitei em algas. Já sangrei em corais. Já encalhei na areia. Já descansei no manguezal. Já acompanhei o pré-natal de uma sereia. Já me perdi na grandeza de uma baleia. Já passei pelas fábulas da cidade submersa. Já achei que o mundo era um grande tapete persa. Um tapete persa tingido de azul estendido lá pros lados de Istambul.


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