15/08/2009 - Conto novo
Conta-me um conto novo para eu ver se o dia tem graça. Mas não me conta sobre o velho que carimba papéis, mas não me conta sobre a mulher que fez do avental seu vestido, mas não me conta sobre os trens que vão e que vem pelos trilhos de ninguém. Eu quero um conto novo. Não me conta sobre os vulcões adormecidos da rua de cima, não me conta sobre os peixes vermelhos do aquário de sal, não me conta sobre o choro dos homens e mulheres que se buscam e não se encontram.
Conta-me um conto novo para fazer satisfeito um insatisfeito. Conta-me sobre o que ainda não me contaram e, até mesmo, conta-me sobre o que eu ainda não contei. E entre tantas contas, não me conte matematicamente, mas sentimentalmente. Conta-me o que há por trás das contas que as mães de santo penduram no pescoço. Conta-me a conta que a criançada inventou para passar de ano. Mas não me venha contar sobre as contas que minha poesia não conseguiu pagar no fim do mês.
Conta-me de um jeito ainda não contado. Conta-me em livro, revista, jornal, hieróglifo, papiro. Conta-me escrevendo-me em sua pele, em sua boca, em suas entranhas. Conta-me sem que eu descubra o final do conto antes da penúltima página. Conta-me, provocando-me. Conta-me, revirando-me pelo avesso. Conta-me, macro e minimamente, em detalhes que desconheço. Conta-me pela frente e pelo verso do espelho. Conta-me e me afronta e me amedronta e me desmonta em contas.
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