24/01/2009 - Coisas de jardim
O caminho se perdeu quando o meu linho percorreu o seu cetim. Viramos um só jardim, de prosas e jasmim, de rosas e copos, medos e arvoredos. A minha pele crescendo em sua pele, meus braços se abraçando aos seus passos como seringueiras, meu peito se misturando ao seu busto no calor dos arbustos. Suas mangas escorrendo rente aos meus dentes e suas rendas e fendas me alimentando como oferendas. Eu lhe agarro, narro paixões e seus botões se escondem em minhas casas de joão-de-barro.
Olha lá os duendes, de gorros coloridos. Olha lá os sapos, vestidos de chapéus de palha. Olha lá as borboletas, borboleteando em varetas. E não sei se por brincadeira dos duendes, por feitiço de algum sapo de mandinga ou pelo pó das asas das borboletas, o algodão, do seu vestido, torna a virar flor. E vem o vento e tenta lhe levar. E vem a chuva e tenta lhe levar. E vem o menino e tenta lhe levar. Mas destino de flor é jardim e o seu desatino é meu corpo, nesse amor barroco.
Sou seu jardim, seu jardineiro, sou eu quem cuida das suas brotas, quem lambe suas botas, quem sustenta suas raízes, visíveis e invisíveis. Suas folhas se decompõem em minha terra. Em seu andar a guerra se compõe em primavera. E nossos corpos vão se triturando, se misturando, se sugando, feito seiva e parasita. Sou paisagem e você, beleza selvagem. Você canta passarim e eu lhe gravo feito mídia. Sou xaxim, você é orquídea.
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