25/03/2009 - Clodovil do Brasil
Já ouviu aquela frase: basta morrer para virar santo? Com Clodovil foi assim. Apedrejado vivo, beijado morto. Mal falado vivo, afamado morto. Odiado vivo, amado morto. Poderiam existir milhares de combinações como essa, mas é o bastante para ilustrar a ascensão a herói que acontece no Brasil após passar dessa pra melhor. Com Clodovil não foi diferente. O estilista já entrou para o roll dos adorados. E não faltam adoradores para colocá-lo no ar. Se estivesse vivo, criticaria toda essa falsidade, essa hipocrisia, esse comércio de sua imagem e história.
A televisão não falou em outra coisa. Explorou ao máximo tudo o que remete ao nome de Clodovil. Entrevistas antigas, os quatro cantos de sua casa na montanha, declarações de amigos. Amigos? Será que eles existiam antes da morte daquele que causou estardalhaço no Congresso Nacional. Com ternos bem cortados e uma língua afiada, tal tesoura em seda, fez daquela tribuna seu último palco. Expulso da televisão, respondendo a processos, passando dificuldades financeiras, enfrentando doenças, a morte física foi apenas uma conseqüência.
Se Clodovil fosse explicar essa mistura de comoção e merchandising em torno de sua morte, que o transformou numa espécie de "Clodovil do Brasil", falaria que ele veio de baixo, trabalhou e venceu. Uma coisa meio Cinderela. No entanto, acredito que ele, méritos à parte, foi só a vítima da vez. Quando sua morte não vender mais, aí sim será enterrado. Por enquanto, vivamos o estardalhaço. Como canta Nelson Cavaquinho, "depois que eu me chamar saudade, não preciso de vaidade, quero preces e nada mais". Mas em se tratando de Clodovil, certamente preces não são o suficiente.
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