12/08/2009 - Breu total
Está tudo apagado em mim. Tudo escuro. Feito noite sem luar. Tudo é sombra, tudo é uma quizomba nessa escuridão de arromba. Meus olhos quilombolas dizendo que lhe dão bola. E você me respondendo: ai não me amola que é um apagão geral. Será que é culpa do Planalto Central? Ai meu Deus, que cruz! E nesse breu todo como eu faço para dar a luz? Eu preciso trazer à luz um novo mundo, mas é preciso que alguém acenda um lampião. Um lampião a gás ou uma lamparina a querosene, tanto faz, toque a sirene!
Tudo quando é vaga-lume sumiu. Tudo quanto é farol partiu. Tudo quanto é sol caiu no mar. A dona vela cansou de queimar e chorar. E tem criança a espernear com medo do bicho-papão. Será um eclipse ou a nossa extinção? As estrelas estão em greve. Deu chuva brava nos incêndios. O filme do tocha humana saiu de cartaz. Os cigarros foram proibidos e, com eles, os isqueiros, fósforos e similares. As lâmpadas pifaram. E até os macacos desaprenderam a fazer fogo.
Agora tudo é das trevas, o mundo pertence às criaturas cegas. Os morcegos gargalham. As assombrações farfalham. E as orações, pelo jeito, serão todas falhas. E sem luz tudo é um buraco vazio, sem dimensões exatas, sem perspectivas e sem calor. De fato, o breu é frio como o assovio da morte. Nessas condições sombrias, perdi o norte. Não sobrou nem mesmo um abajur de bebê para me satisfazer. E agora, o que eu vou fazer? Fechar os olhos e adormecer? Abrir os olhos e enlouquecer? Apenas entregar os olhares à explosão do vulcão que há dentro da mulher amada que caminha escura e nua pela estrada.
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