22/07/2009 - Beija-me
Beija-me como nunca dantes beijou. Beija-me com frases nos lábios. Beija-me numa língua diferente. Beija-me de modo que me envolva em seus tentáculos labiais. Beija-me salivando de desejo. Beija-me no futuro do passado. Beija-me numa nova conjunção adverbial. Beija-me num capítulo à parte. Beija-me num golpe de arte. Beija-me numa conjugação desconhecida do verbo beijar. Beija-me intensa e solitária. Beija-me num socialismo neoliberal. Beija-me num quadro de Monet, por entre paisagens efêmeras e delicadas.
Beija-me na dose exata de prazer. Beija-me num canto de loucura. Beija-me interruptamente. Beija-me sem se importar com as manchetes dos jornais. Beija-me numa licença gramática. Beija-me contrariando a matemática. Beija-me no silêncio de nós dois. Beija-me sem equacionar o depois. Beija-me como manda o horóscopo. Beija-me como nunca se atreveu. Beija-me quebrando regras e convenções. Beija-me como se quisesse voltar a ser a minha costela. Beija-me como quem se joga da janela. Beija-me num beijo de novela.
Beija-me antes e depois das seis. Beija-me de olhos abertos, mesmo quando fechados. Beija-me com os cabelos soltos, roçando pelo meu rosto. Beija-me tatuando sua fronte na minha, num beijo telepático. Beija-me sorrindo, mas se houver lágrimas que não as prenda. Beija-me girando entre sol e lua. Beija-me como beijavam os gregos. Beija-me num outro planeta. Beija-me numa quinta estação. Beija-me entre suores e arrepios. Beija-me como quem está disposta a morrer ou matar por um beijo. Beija-me de se fartar, de se lambuzar, de gritar por ou pela falta de socorro.
Beija-me de ser beijada.
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