05/06/2009 - As dores do amor
Discordando de Fernando Pessoa, o amor é dor que se sente. Dor sentida no peito, com direito a fisgadas e apertos em todas as artérias, arteríolas, capilares, vênulas e veias do coração. Dor sentida na massa corporal, com ganhos e perdas excessivas e inconstantes de peso. Dor sentida nos olhos, resultando em olhares dispersos, aflitos, perdidos e em profundas olheiras de noites veladas. Isso sem falar de lágrimas e deturpações da realidade em sonhos e fantasias. Dor sentida na língua, com declarações reais, e poemas surreais e silêncios sepulcrais. Dor sentida na alma, com crises existenciais e tentativas de suicídio.
Amor é dor sentida em todas as articulações, causando sérias complicações de mobilidade física. Amor é dor sentida no ego, maximizando ou minimizando a estima, o amor próprio, as virtudes de cada um. Amor é dor sentida nos pensamentos, causando curto-circuito de neurônios e distúrbios terminais à racionalidade humana. Amor é dor sentida na pele, em escoriações e tatuagens. Amor é dor sentida nos ouvidos, com direito a ecos e miragens auditivas. Amor é dor sentida na garganta, ao engolir, sem reclamar, sapos e outros bichos em nome da criatura amada.
Amor, dor que se sente em surdina ou em grandes espetáculos. Dor que se sente com doses de adrenalina ou estriquinina. Dor que se sente e não se define. Dor que se sente e não se cura com auto-medicação. Dor que se sente sem querer ou sem poder ou sem dever. Dor que se sente em casa, na rua, no trabalho ou na dimensão que estiver. Dor que se sente extrapolando noções de tempo cronológico, psicológico e sentimental. Dor que se sente por vocação, por necessidade, por sobrevivência. Dor que se sente para si e para todos. Dor que se sente mesmo quando o conceito de dor se faz ausente.
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