01/06/2009 - Amor de tarô
Dê-me um bloco de papel e uma caneta e eu lhe digo o futuro. Sou cigano dos versos, jogo rimas como quem semeia búzios. Em uma estrofe de copas, encontro o triângulo amoroso entre uma rainha, um rei e um valete de copas. Em outra de espadas, suas conjunções astrais. Pela serifa das letras, traço as linhas da sua vida e da sua morte. Não sou cartomante, não sou falsário, não sou ilusionista, sou apenas um letrista de sentimentos.
Minha tenda é a silhueta da criatura amada. Leio a sorte e o azar de cada um como quem recita um poema. Não tenho medo de pragas ou de perseguições, digo aos ouvidos de fora apenas o que querem ouvir. Mas me interesso mesmo é pelo não dito, que fica perdido após cada consulta. Os conselhos tão requisitados eu guardo em estantes, nas fileiras das páginas dos livros poéticos de mim.
A minha numerologia é a minha métrica ou vice e versa. Faço leitura de mãos, de face, de bocas. Olho nos olhos ainda continua sendo a melhor forma de descobrir coisas do amor. O destino é o próximo verso. E no próximo verso tudo cabe. Faço simpatias fraseadas, faço amarrações silábicas, faço trabalhos trágicos ou dramáticos, mas sempre fico à mercê do encantamento da mulher que me embaralha num amor-tarô.
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