Daniel Campos

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16/03/2014 - Viver com gosto

O gosto pela vida, talvez essa seja o maior legado de meu avô, que há quatro anos foi em busca de outras vidas. Uma pessoa que fazia tudo com um prazer imenso. Seu serviço, por mais pesado que fosse, o fazia leve. Nada era capaz de lhe arrancar o otimismo, a certeza de que tudo mais dia menos dia daria certo. Era só questão de esperar. Mas ele nunca foi de cruzar os braços, sempre buscou o que quis com garra e com paixão. Sim, meu avô era a tradução mais próxima do lutador e era um apaixonado convicto.

Aquele sorriso, tímido e forte, irradiante, sintetizava o que era aquele homem feito de sonhos e esperanças. Por mais dura que a vida lhe fora, os olhos de meu avô jamais empedraram, continuaram vibrantes capazes de fazer e se deixar emocionados. E era só olhar para aqueles olhos verdes que a gente se sentia mexido, provocado e tomado por uma energia tamanha. Aqueles olhos sempre me foram uma fonte da juventude, cada mergulho dava à gente mais jovialidade, entusiasmo, vida.

Meu avô trabalhava com gosto, dormia com gosto, perfumava-se com gosto, dançava com gosto, conversava com gosto, vestia-se com gosto, comia com gosto... Entenda-se gosto por amor. E era isso que o fazia mais que especial. Cada detalhe, cada momento, cada passo era valorizado ao máximo por aquele homem simples, mas de alma nobre. Meu avô era lavrador, mas tinha uma elegância digna das mais altas linhagens. Elegante não só nos modos e costumes, mas na maneira de amar.

A palavra impossível jamais existiu na caminhada de meu avô. A vontade de superação era diretamente proporcional ao tamanho do obstáculo colocado em seu caminho. Meu avô nunca fugiu, nunca abaixou a cabeça, nunca desistiu. Enquanto não conseguia o que queria não sossegava. Jamais se acomodou. Meu avô não só sempre queria mais como sempre achava que podia dar mais de si. Tinha uma verdade, uma sinceridade, uma honestidade com seus sentimentos de se tirar o chapéu.

Meu avô deixou muitas lições como esse lutador apaixonado que fez história, mas esse gosto pela vida é a que fala fundo até hoje. Hoje o nosso abraço é diferente, os nossos encontros são diferentes, as nossas conversas são diferentes, mas a emoção é a mesma. Vejo aquele sorriso fértil como as terras que ele cultivava; a partir dele nascia de um tudo. E a sabedoria de que a gente precisa ser feliz a cada dia e buscar isso a todo instante é tão atual e maior que tempo, distância e morte...


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