Daniel Campos

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26/05/2011 - Vento de maio

O vento finado de abril vem lá do fundo do mundo, meio sem cor meio sem graça, descontente de amor, desacreditado da paixão. Vem frio e vazio, dobrando o horizonte, fustigando o chão. Vem raivoso querendo fazer tempestade, vem vento odioso querendo varrer da terra a saudade. Vem cortando de tristeza quem ama. Vem com fama de violento, levando cabra valente pra debaixo da cama. Vem vento agourento, apagando da fé a chama.

No entanto, conquanto, pra mó do espanto, quando encontra a flor de maio, aquieta-se entre os seus espinhos e tinge-se de vermelho, de rosa, de salmão, de champanhe, de branco. No branco dos véus das noivas que caminham pelos tapetes das igrejas de maio. O vento brabo fica manso, vira brisa nas bocas que trocam seguidos eu te amos. Deixa de ventar e começa a soprar um sopro divino, que dá alívio e criação à civilização da ventania.

O vento se perfuma nas flores de maio. O vento se colore nas flores de maio. O vento se aninha nas flores de maio. O vento enciúma das flores de maio. O vento corre pras flores de maio. O vento se avizinha às flores de maio. O vento se apaixona e ronrona nas dobras das flores de maio. O vento vaga até que se embriaga no néctar das flores de maio. O vento e o vento no balaio das flores de maio. O vento como asas de papagaio nas flores de maio.

O vento de tanto amar-ventar se põe num desmaio nas flores de maio.


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