Daniel Campos

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22/06/2013 - Velho boiadeiro

Pelas estradas da lembrança, os aboios de um boiadeiro que passa solitário. Passa no meio de centenas de cabeças de gado. Gado bonito, bem cuidado, que espalha seu colorido pelo estradão de terra. Aqueles cascos batendo contra o chão chegam a levantar uma poeira cujo gosto, apurado na língua, é de uma saudade extra-virgem. O boiadeiro, ora em cima de um cavalo aprumado ora no chão faz movimentos de um maestro que tem como batuta um galho seco.

Em ritmo compassado, a boiada vai marcando estrada e deixando sentimentos pelo ar. Sentimentos de um tempo que rompe as barreiras cronológicas. Vacas em branco e preto, garrotes dourados, novinhas avermelhadas, touros negros vão se misturando ao verdume da paisagem que parece escorrer, como água de mina, dos olhos daquele boiadeiro. Os aboios que deixam sua boca são tristes e fortes ao mesmo tempo. Aboios que colocam respeito e emocionam até as pedras do caminho.

O boiadeiro, com mais de oitenta anos, segue com seu gado com ânimo de menino. Não tem dia certo nem horário para seguir com sua comitiva. Não gosta de ficar parado num lugar por muito tempo. Passando por rios, estradas e matas, está sempre em busca de seu destino. Passa, com seu gado, por meninos, mulheres e velhos companheiros. Segue tocando sonhos, dores, desafios, esperanças com a mesma alegria. Uma alegria que se espalha chegando a abrir porteiras quando ele toca seu berrante.


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