Daniel Campos

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27/10/2009 - Vamos pro fundo do mar

Vamos meu amor, vamos pro fundo do mar. Tudo o que tem aqui, tem também no fundo do mar. Tem gérberas, abelhas e avenidas. Tem, tudo tem no fundo do mar. Tem uma biblioteca com todo o romantismo das águas de Tom Jobim e até um cálice de vinho do porto esperando nossos olhos, nossas bocas. Podemos ficar juntinhos entre os corais e colocar na vitrola, bem baixinho, o último álbum das sereias do além-mar. Vamos meu amor, ouvir as histórias dos marinheiros. Vamos meu amor viver o amor-corriqueiro no fundo do oceano. Vamos meu amor, o mar já está passando.

Vamos meu amor, correr pelas costas do mar como tatuagem. Vamos saber dos povos profundos, das civilizações esquecidas, dos desejos que navegam pelo mundo aquático em garrafas. Vamos poder nadar, mergulhar e se amar... só, por favor, meu amor tome cuidado com as tarrafas. Vamos meu amor derrubar as pontes e cair no mar, colocando pra fora toda nossa maresia. Vamos nos beber e nos olhar em olhares embebidos de poesia, entre peixes, algas e piratas. Vamos navegar, remar e nos afundar nos mistérios, nas lendas, nas histórias de um mar de regatas.

Vamos meu amor, que dentro do mar não tem espaço pras coisas do sertão. Dentro do mar não há fome nem som de trovão. Não se preocupe com sombrinhas nem com goteiras. Não se preocupe com roupas de frio, pois no fundo do mar tem sol e lareira. Vamos ao jóquei apostar nos cavalos marinhos. Vamos beijar a areia e fazer espuma à lua cheia. Vamos arrepiar a água, dar-lhe calafrios em pleno verão. Vamos amor fazer das ondas do mar nossa última embarcação. Vamos pro fundo do mar esquecer o quanto o tempo é abrupto. Vamos, vamos, que o sal do mar irá conservar os nossos corações incorruptos.


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