Daniel Campos

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04/07/2008 - Vá em paz, Waldick

"Vou partir para distante
Vou viver pensando em ti
Vou morrendo de saudade
Ai quem me dera poder ficar aqui"

Em poucos episódios da história, música e compositor alcançaram tamanha sintonia atemporal. Assim como esse trecho da canção "Minha Despedida", os versos quarentões "eu não sou cachorro não, para viver tão humilhado" parecem ter sido compostos nesse exato instante por Waldick Soriano. Lutando contra um câncer de próstata desde 2006, o cantor, considerado um dos ícones da música brega, tem de conviver com o diagnóstico erudito dos médicos de que sua morte é irreversível.

O câncer se espalhou pelo seu corpo, que já se locomove por meio de cadeira de rodas, e ameaça calar a voz daquele que já trabalhou como lavrador, peão, garimpeiro e engraxate antes de conseguir emplacar sua primeira música... "Quem é tu? Para querer manchar meu nome. Quem és tu? Se fui eu quem matou tua fome". Agora, o mais folclórico dos cafonas prepara-se para deixar essa dimensão onde viveu entre a glória e o fracasso, entre a fama e o abandono, entre o sucesso e o ostracismo de um país que não se assume enquanto popular. A verdade é que o cantor dor de cotovelo embalou milhares de corações maltratados. Muitos, por vergonha, não assumem, mas já choraram ao som de Waldick. E ele, hoje, chora ao som de quem? Talvez de si próprio.

"Amigo,
Por favor, leve essa carta
E entregue àquela ingrata
E diga como estou
Com os olhos rasos d'água
E o coração cheio de mágoa
Estou morrendo de amor"

Fica o lamento de não ser um amor o causador da premeditada morte de Waldick, mas um câncer. Justo agora que ele comemorava as vendas de seu primeiro DVD e a repercussão do documentário idealizado e dirigido pela atriz global Patrícia Pillar. Aos 75 anos, o homem que veste como ninguém um repertório de canções sobre amores malsucedidos e se apresenta sempre de óculos escuros e roupas pretas está de partida. Vá em paz, Waldick!


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