Daniel Campos

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22/10/2013 - Um violão

Ele amanheceu, passou a mão no violão e saiu pelas ruas buscando um motivo para dedilhar aquelas cordas. Um bêbado, de ressaca solitária, quis fazer coro em uma canção que não se lembrava da letra. Uma moça, vestida para sonhar, pensou que seria capaz de inspirar uma composição. Um velho, sentado na sarjeta, desandou a falar como se o do violão tivesse obrigação de cantar sua história.

Subindo e descendo pelo mundo das notas, o cantor foi passando por donzelas nas janelas, por moças de louças, por ciganas de porcelana, por amantes dissonantes... E um garoto soltando pipa tentou dar linha, ou a linha, para a música que estava por vir. A mulher se esquivou do marido buscando um acorde só para ela. O florista procurou uma parceria de última hora.

O apaixonado pensou que seu anjo da guarda tivesse mandado um seresteiro. O boêmio convidou o do violão para beber do seu copo. A noiva se imaginou toda de branco arrastando sua cauda por aquelas cordas. A viúva suspirou lembrando-se dos bailes que dançou. Um moleque apontou e, como se fosse deboche, sorriu. Um pássaro pousou no braço do violão e assoviou.


Comentários

23/10/2013, por Sandro:

Bem detalhista estilo cinema


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