Daniel Campos

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Um homem também chora

"Um homem também chora, menina". O choro, em si, não tem sexo, entretanto as lágrimas de uma mulher são completamente diferentes das lágrimas de um homem. Talvez o choro das mulheres seja mais atraente. Talvez o choro dos homens seja mais bruto. Mas, não vamos aqui, por hora, discutir as anatomias do choro.

Quantas vezes, leitor(a), você já escutou, por aí, que homem não chora? Quantas vezes você, viu um homem chorar? Quantas vezes? E não vale citar como exemplos o choro de um ator de cinema, de um louco preso nas torres de um manicômio, de um bêbado em fim de noite. Também não vale citar aquele choro fingido que surge em nome de algum interesse. Falo do choro, simplesmente, chorado. Então, quantas vezes?

Mesmo com toda liberdade, com toda modernidade, com toda idade, o choro masculino continua com ares de tabu. Também não quero discutir a causa, se é herança machista ou se é vergonha. O que eu desejo apontar é que tal cenário começa a sofrer uma mudança. Através de duas personalidades, o país começa a aprender que um homem também chora. Com isso, a sociedade fica mais exposta e, por conseqüência, mais forte.

Um homem também chora uma separação. Um homem também chora uma saudade. Um homem também chora um amanhã que ainda não nasceu. Um homem também chora um grande amor. Um homem também chora é explícito quando Roberto Carlos chora Maria Rita. Um desencontro e um possível reencontro se encontram no choro daquele que canta o seu amor sem limite, num tempo sempre presente. Chora e não importa o tempo e não importa se o faz secreta ou publicamente. O que importa é a dimensão que aquele choro torna possível. E o choro de amor não é um choro ridículo, posto que até reis o choram.

Trocando de personagem, um homem também chora ao longo da sua luta. Quem não se emocionou com o choro de Lula durante sua campanha eleitoral, no dia da vitória, no dia da diplomação. Independentemente se votamos ou não com ele, a emoção é um caso à parte. Um choro que já tinha sido feito das tantas perdas ao longo desses mais de vinte anos de batalha (eleições e companheiros ficaram pelo caminho). Um choro que se tornou, mais do nunca, um choro de fé. A fé num povo e a fé de um povo. Um homem também chora por ter a chance de acabar com a fome de milhões e milhões de brasileiros. Um homem também chora quando sente a esperança mais perto. Um homem também chora o seu sonho.

Roberto Carlos, Lula e os homens, em geral, não passam de guerreiros meninos (para citar o título da música de Gonzaguinha que abre esse texto). O homem que sempre foi criado para ser um guerreiro espartano e, assim, enfrentar e carregar o mundo com peito de aço, na verdade, nunca deixou de ser um guerreiro menino. Um guerreiro que como diz a música de Gonzaguinha também chora, também deseja colo e palavras amenas.

Com o tempo e com os exemplos de que chorar não torna os homens menores, as emoções talvez sobrevivam. Quem ao longo desses últimos anos, viu lágrimas nos olhos de FHC? Quem chorou com Collor? Alguém se lembra dos militares chorando? Um país onde as lágrimas foram proibidas durante mais de vinte anos, volta a chorar. Lula também chora, Roberto Carlos também chora, o escritor, aqui, também chora, e você, também chora? E se você, leitor(a), pergunta o porque de tanto choro, eu respondo que não existe parto sem lágrimas. E mais do que nunca é preciso fazer partos e mais partos de esperança.


Comentários

24/08/2010, por Andrelina Soares:

Concordo plenamente, pois já tive a experiência de ver homem chorar. E foi um choro como de uma mulher, de amor, carinho e afeição. Talvez um choro tão intenso como o do Exº Lula e Roberto Carlos. E esse tabu de que homem não chora penso que é retrógado, porque acima de tudo o homem é um ser humano e como tal estar suscetível a esse sentimento.

14/06/2011, por nilton cezar de paula:

Tons de Gonzaguina. Uma homenagem na Unisal


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