Daniel Campos

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Um ano (de naufrágio)

Um ano. Parece muito mais. Parece muito menos. Devo admitir que perdi as dimensões do tempo. Não sei, com exatidão, o que um ano significa. Mas os calendários acusam a passagem desses 365 dias. Quando cheguei aqui há um ano, cheguei tarde da noite, todo confuso, todo tonto, ardendo em lágrimas. Brasília foi se mostrar plástica e sentimentalmente a mim só ao amanhecer do dia seguinte. Um amanhecer de domingo. Domingo, o dia internacional da solidão. E por audácia do tempo, que insiste em duelar comigo, hoje é domingo.

Quando vi aquela Brasília de um ano atrás se amanhecer diante de mim, o que mais me assustou foi a concretude da solidão que aqui existe. A arquitetura, o projeto urbanístico, os diálogos, tudo parece ter sido criado para beneficiar a solidão. As superquadras com seus espaços vazios, seus eixos largos e contínuos, esse horizonte que parece não ter fim (acho que em nenhum lugar a linha do horizonte se faz tão imaginária como aqui), sem falar nessa lua que chega tão perto, mas tão perto dos nossos sonhos anoitecidos e não diz nada. Tudo isso me fez sentir muito estranho. Tive medo, medo, medo...

Hoje pela manhã sai para fazer uma caminhada. Uma longa caminhada. Daquelas sem rumo e sem hora para chegar. Tentei reencontrar os meus passos de um ano atrás. O céu sem nuvens, as árvores se despedindo de suas folhas, a grama deixando de ser verde, os espaços vazios cheios de um silêncio concreto e o vento do mês de agosto como um penetra abusado. Poucas coisas são tão tristes quanto o vento do mês de agosto aos domingos. Seja aqui, seja no sítio, seja aonde for. Nem é preciso dizer que essa combinação é uma coisa que "corta".

Dia 31 de julho de 2006. Hoje, embora a minha vida tenha se transformado muito, mas muito mesmo nesses mais de 360 dias, foi tudo muito parecido. Eu e tantos sonhos. Eu e a solidão. Eu e uma crença incrível no amanhã. Embora hoje tenham faltado sorrisos, sobrou esperança. E é nessa esperança que caminho.

Observação do autor: O texto fala do aniversário de um ano do poeta em Brasília.


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