Daniel Campos

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26/12/2008 - Tudo o que eu queria da vida

Tudo o que eu queria da vida era um amor, um barco e um mar alaranjado. O amor, a vida me deu num belo presente cheio de fitas e magias. O barco está fora de cogitação. E o mar corre vermelho, corre azul, verde, mas não se laranja em momento algum. Do amor, tenho os gomos de beijos e os pedaços do desejo. Do barco, só tenho o vento que me sopra e a vela que eu acendo em prece no ardor deste amor. Já do mar alaranjado eu não tenho nada, já que o sol não quer tingi-lo, apenas frigi-lo em chamas azuis.

Sou marinheiro do asfalto, da terra batida, dos céus de galeões. Sou timoneiro do amor, me guio pela constelação da mulher amada, e cada saudade é uma âncora a me prender. São tantas ilhas de sentimento a aportar meus passos. São tantos monstros mitológicos a desafiar e saquear o que sinto. Sou capitão dos sonhos dessa terra esquecida. Sou pirata sem mar, marinheiro sem água, navio sem convés. Sou escafandrista de aquário a me perder no néon de um peixe.

No entanto, faço do meu verso veleiro e navego pelos cabelos da mulher amada, em suas ondas tão macias quão misteriosas. Vou deslizando por suas espinhas, por suas costelas, por seus relevos. E em alto mar escuto o canto da sereia, me arranho no tridente de Netuno e me jogo na boca de um tubarão só pra chegar ao mar alaranjado que corre nos olhos da mulher amada. Um amor, um barco e um mar alaranjado, tudo o que eu queria na vida.


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