Daniel Campos

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29/09/2010 - Trégua

Ter a mulher amada nos braços traz uma sensação de poder e de fragilidade difícil de compreender. Um estado físico, psicológico, espiritual que pode se desestabilizar a qualquer minuto. A respiração dela, ali, tão perto. Os olhos dela, abertos ou fechados, numa sensação de cumplicidade extrema. Os pensamentos dessa mulher, sempre tão secretos, saindo pelos folículos pilosos, deixando-se se descobrir. Um momento único. Vontade de gritar, de chorar, de sorrir, de se dar. É o êxtase, a overdose, o clímax.

Romantismo e dominação. É como se todo amor dedicado fosse de uma só vez retribuído. É como se você conseguisse ter dominado a maior de suas feras. É como se os astros se conjugassem de acordo com o seu desejo. A mulher amada ali, tão perto, tão exposta, tão terna vai lhe devolvendo a auto-estima, a esperança no amanhã e a certeza de que para o amor nascer é preciso, primeiramente, sofrer. Aquele momento é a trégua de uma guerra travada entre atos e desacatos praticados por duas pessoas.

Ter a mulher amada nos braços é ter um pássaro, uma criatura divina, um buquê abstrato nos braços. As peles, os arrepios e os suores se misturando num perfume que vai do medo à loucura, da paixão à pausa, do choro ao grito em um átimo de tempo. Tudo é tão intenso, denso e, ao mesmo tempo, tão leve e breve. Ter a mulher amada nessas condições é um privilégio e uma arte que exige cuidados. As palavras e os gestos precisam ser espontâneos quão milimetricamente calculados.


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