Daniel Campos

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17/12/2010 - Tomara o tempo fosse diferente

O velho Vinícius me ensinou que “a coisa mais divina que há no mundo é viver cada segundo como nunca mais”. Uma versão viniciana para o famoso carpe diem. O tempo é impiedoso. Enquanto estamos entretidos com trabalho, sono, televisão, jogo, conversa fiada, ele está passando como vento que não cessa. Passando e carregando um pouco de tudo, inclusive, de nós. O tempo é mar bravio, que vira nossos cascos de pernas para o ar. O tempo é o Deus sempre presente e atuante. O tempo é para todos e de ninguém. O tempo é a locomotiva, cada um dos vagões que seguem em fila indiana e o trilho vazio também.

Carregamos relógios nos pulsos, mas é o tempo quem nos carrega. Anotamos compromissos em agenda, mas é o tempo quem toma nota de nossos passos. Tentamos prender o tempo em calendários, mas ele é maior do que 365 dias. Pensamos controlar o tempo, mas ele não tem controle. Por isso, nada melhor do que viver cada segundo como se fosse o último a ser vivido. De qualquer forma, os segundos seguintes não terão a mesma emoção daquele que ficou. Cada segundo é único em nossas vidas. Somos tolos ao contar a vida em anos, décadas, séculos. Deveríamos contá-la em segundos. Tenho certeza de que a daríamos mais valor.

O problema está na contagem. De segundo em segundo é mais fácil se arrepender e voltar atrás. De segundo em segundo é possível amar milhões de vezes por dia. De segundo em segundo é permitido viver cada detalhe de sua própria vida. De segundo em segundo é mais fácil observar o que se passa dentro e fora de você. De segundo em segundo é mais compreensivo o ritmo da vida. De segundo em segundo é mais difícil deixar buracos e lacunas pelo caminho. De segundo em segundo a vida é de uma intensidade capaz de estancar, ao menos ilusoriamente, a sangria do tempo.


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