Daniel Campos

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Tango na sapucaí

O calendário mudou, mas como diz a letra de um samba, nada de novo. Bin Laden continua desaparecido; Roseana Sarney continua sem conteúdo; Silvio Santos continua com o sorriso aberto; Índia e Paquistão continuam as ameaças nucleares... Com toda essa "continuação", se não se falasse tanto em carnaval, diria que ainda estamos em 2001.

Isso mesmo! Começaram os preparativos para o carnaval, ou melhor, para aquilo em que se transformou o carnaval (retomarei o tema num artigo futuro). Apesar do grande número de acontecimentos pendentes do ano passado, a mulata globeleza está no ar.

Enquanto todos se preparam para a "grande festa brasileira", eu queria dançar um tango. Não, não estou de brincadeira e nem traindo a "pátria brasilis", porque esta pátria é como o carnaval de hoje, simplesmente, uma imagem oca. Nada além de uma (falsa) imagem.

Explicar-vos-ei. Com a crise da Argentina, o cenário fictício brasileiro ganhou tons mais fortes. Aquele país que travamos uma rivalidade, que até hoje não entendi o porquê, mergulhou numa crise generalizada. Crise política-econômica-social com direito a troca de presidentes, de nomes do alto escalão, de modelo econômico. Mas, e daí? E daí que o Brasil passou ?imune? a tudo isso, atenuando-se, assim, a nossa ?superioridade?.

Brasil: governantes vão à televisão pronunciar, com a boca cheia de orgulho, que o nosso país tem um alicerce forte; que nos desprendemos (economicamente) da Argentina; que tudo está sob controle e coisas do tipo. Enfim, que o carnaval está garantido.

Por algum milagre, nada sofremos de imediato. Mas e em médio prazo? O dinheiro que o Brasil emprestou dos EUA, no governo FHC, a fim de sustentar um plano econômico, é espantoso. Falo daquele plano que ganhou as últimas eleições, o real, que só existe ainda por dois motivos: 1- pela "paciência" do povo brasileiro; 2- pelos empréstimos feitos junto ao EUA.

Mas há um momento que de tanto abrir as pernas, vai-se ao chão. Na Argentina, a crise não começou ontem, porém há mais de dez anos com um plano econômico. No Brasil, depois de oito anos de governo FHC, quem assumir a presidência vai viver o risco de uma crise de perto. Se ganhar um governista, essa bola de neve deve ser empurrada mais um pouco, mas tende a aumentar mais e mais, até que, sem ter como adiar a queda, o desastre seja consumado. Agora, com vitória da oposição, a avalanche se vier, pode vir mais cedo, talvez até de forma mais amena ou mais drástica, em virtude das mudanças na direção do rumo do Brasil.

Enquanto a mudança não ocorre, o governo tenta nos enganar com um nacionalismo sem razão de ser. E já prepara os tambores. O carnaval é a política ideal. Em meio a tanta festa, levam-nos a crer que, vivemos num paraíso. E a idéia de paraíso invade as ruas.

Em algum lugar dessa imensa "pátria brasilis", com tantos projetos polêmicos que causam menos barulho do que uma quarta-feira de cinzas, o povo se revolta, justamente, quando se alteram algumas regras a respeito do carnaval local. (...) o Brasil é um paraíso que abriga uma gente alegre, pacífica... Ops, só não se pode mexer com o carnaval, no mais...

Por isso, enquanto a maioria pensa no carnaval, desejo um tango. E não queria dançar na Casa Rosada (Argentina), queria dançar em plena Sapucaí. Um tango num lugar onde não existe tristeza, onde tudo é oba-oba. Que pena que no paraíso as panelas estão sempre cheias de comida e sendo assim, só ganham às ruas numa batucada de "carnaval".


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