Daniel Campos

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22/09/2011 - Sombras são

Tudo às escuras. Não há faísca alguma de luz pelo ar. Tudo escuro. Luzes apagadas. Abajures invisíveis. Carros sem faróis. Lanternas quebradas. Postes nus como árvores sem frutos. Noite de luto. Vagalumes extintos. Santos sem velas. Estrelas caídas. Lua em curto. Sol do Japão. Negro neon. Cegueira coletiva. Fontes de escuridão. Criaturas das sombras. O mal vencendo o bem. Anjos das trevas reinam absolutos.

Os fósforos estão úmidos. Os isqueiros se perderam. O acendedor elétrico dos eletrodomésticos não funciona mais. Os escoteiros se esqueceram de como tirar fagulhas das pedras. Nem Santa Barbara nem Iansã nem Zeus nem Thor mandam um raio sequer. Os fumantes morreram e com eles, seus cigarros. Não há qualquer curto-circuito, explosão, incêndio em curso. Depois da era de luz, o tempo do breu.

Homens e mulheres se amando e se odiando no escuro. Os olhos substituídos pelas mãos. O flerte do toque. É como se o mundo passasse a ser lido por libras. Ninguém mais se vê no reflexo do espelho. A falta de luz se estende do cabelo ao tornozelo. Tudo desligado. Dos brilhos artificiais aos pessoais, como o do olhar, tudo se apagou. As mulheres deixam de dar os seus à luz para dar os meus à escuridão.


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