Daniel Campos

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30/08/2008 - Sol negro

As crianças, diante de uma caixa com lápis-de-cor sortida, pintam o sol de amarelo, de vermelho, de laranja. No entanto, um menino, não muito distante daqui, só colore o astro-rei com o lápis preto. Ao lado de casinhas com telhados avermelhados, de árvores verdes, de céus azuis, o sol é negro. E isso vale para todos seus desenhos. Sem exceção! Mas por quê? Será que ele não enxerga direto? Será que ele tinha algum tipo de daltonismo? Será que ele não regulava bem da cachola?

Acreditava-se que ele tinha guardado nos porões do seu inconsciente a imagem de um eclipse solar. E os pais acreditavam que o alinhamento entre terra, lua e sol era o responsável por aquele sol da escuridão. Se bem que a avó, cega de religião, não gostava nada daqueles desenhos e vivia a dizer que o menino era das trevas. Afinal, onde já se viu pintar o sol de preto. Um símbolo de luz não poderia ser tomado pela escuridão. Sem se conformar com a situação, a velha já havia dado uns bons beliscões no neto por causa disso.

A professora da escola também reclamava, em tom de censura. Afinal, o menino precisava aprender que o sol era amarelo. Os colegas também riam do seu desenho e já o tornavam motivo de chacota. Mas o menino não se importava, escutava as críticas e as piadinhas sem ouvi-las e continuava seu desenhar pelos papéis afora. E o sol era onde ele colocava a maior dose de seu capricho. Chegava a sonhar enquanto o coloria. E, aquele sol, imenso e negro, irradiava a ponto de iluminar uma menina negra, que estava a poucos planetas de sua galáxia.


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