Daniel Campos

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29/09/2012 - Schumacher, demitido por justa causa

“Quando acho que cheguei ao ponto máximo, descubro que é possível superá-lo”. Essas aspas não são somente um pensamento, mas uma prática constante na carreira de Ayrton Senna. Por mais adversa que fosse a situação, Senna sempre dava um jeito de superar a tudo e a todos. Corridas como a de Interlagos, em 1991, em que ele completou as últimas voltas tendo somente a sexta-marcha e a largada de Donington Park, em 1993, quando ele largando em quarto, caiu para quinto e ao fim da primeira volta já estava em primeiro à frente de Schumacher e das favoritas Williams, inclusive a pilotada por Alain Prost, são apenas dois exemplos de superação. Porém, Senna é um caso à parte. Um herói que ainda vivo se transformou em mito. E mitos não são demitidos.

O Bild, um dos jornais mais vendidos na Alemanha, traz a seguinte manchete depois do anúncio da Mercedes ter “dado um pé” em Schumacher: “Apostou e foi demitido”. O Der Tagesspiegel diz o seguinte: “Mercedes substitui Schumacher”. A própria imprensa alemã coloca o heptacampeão mundial na condição de um piloto qualquer. Lenda? Que nada, um simples mortal. Um piloto medíocre como comprova seu regresso à Fórmula-1. Desde 2011, sem ter o melhor dos carros nas mãos e pista livre a sua frente, Schumacher mostrou ao planeta sua verdade face, fazendo valer o apelido de “Dick Vigarista”. O que os fãs de Schumi tiveram que encarar foi um piloto que corre no segundo pelotão, que toma volta mais rápida de seu companheiro de equipe, que dificilmente fica entre os 10 primeiros no grid de classificação...

Os sete títulos de Schumacher foram conquistados a partir de uma receita envolvendo: um carro imbatível, estratégias de equipe, trapaças na pista e nos bastidores, falta de adversários, e sorte. Quem não se lembra de que para estrear na Fórmula-1, em 1991, Schumacher, com a ajuda do empresário italiano Flávio Briatore (que mais tarde seria banido da categoria), causou a demissão do brasileiro Roberto Moreno da equipe Benetton? Em 1992, durante testes em Hockenheim, Schumacher causou um incidente prejudicando Ayrton Senna. Por pouco não apanhou do tricampeão. Em 1994, sua Benetton utilizava equipamentos proibidos. No mesmo ano, na decisão de seu primeiro título na última corrida da temporada, na Austrália, Schumacher errou e atingiu o muro. Para não ser superado na classificação por Damon Hill não pensou duas vezes antes de jogar o carro para cima dele, que acabou com a suspensão quebrada.

Em 1997, em outra decisão de título, desta vez na Espanha, Schumacher jogou sua Ferrari contra a Williams de Jacques Villeneuve. Em 2002, no GP da Áustria, seu companheiro Rubens Barrichello foi obrigado a deixá-lo vencer. Em 2005, contrariou o bom-senso coletivo, e venceu o GP dos EUA em uma corrida em que só seis carros largaram em razão de problemas com pneus Michelin. Em 2006, jogou os carros para cima de Nick Heidfeld e Pedro de la Rosa no Grande Prêmio da Hungria para defender uma posição. Em meio a essas atitudes polêmicas, uma fraca geração de adversários e decisões equivocadas dos cartolas favorecendo Schumacher. Com a morte de Senna, a Fórmula-1 testemunhou um vácuo de talentos até a chegada de Fernando Alonso. E ascensão do espanhol forçou a aposentadoria de Schumi.

Em sua volta à Fórmula-1, Schumacher enfrentou um cenário bastante incômodo com pilotos de primeira e carros melhores que o seu. E como o lobo perde o pelo mas não perde o viço, “Dick Vigarista” continuou aprontando das suas. Para citar só incidentes com brasileiros, em 2010 não só jogou como apertou Rubens Barrichello contra o muro no GP da Bélgica; em 2012 acertou a traseira de Bruno Senna na Espanha. Porém, com a mudança dos tempos, isso não foi o bastante para conquistar títulos. Não conquistou pole ou vitória alguma. Apenas um pódio. Não restou outra saída para uma equipe que leva o nome de uma montadora tão alemã e famosa quão Schumacher senão chamar um piloto de verdade para o seu lugar – o inglês Lewis Hamilton, que já confessou publicamente mais de uma vez que seu ídolo é Ayrton Senna.

Como já dito anteriormente, mitos não são demitidos, ainda mais por justa causa...


Comentários

18/11/2012, por Moraes:

Quem diz a verdade não merece castigo...Tô contigo.

18/11/2012, por Moraes:

A propósito: o "xumarque" prestou um grande serviço à história e à consciência universal ao voltar a correr. Ele nos deixou registrado o que sempre soubemos, i.e, que não passava de um piloto sofrível e um campeão de papel, construido pelas incontáveis trapaças e manobras de bastidores comungadas com dirigentes inescrupulosos ("Briatores da vida"), conforme está registrado nos anais da F1. A história, agora, respira aliviada, pois, uma grande farsa foi desmascarada, e assim será lembrada....

18/11/2012, por Moraes:

Ocorreu-me, agora, que Michael Schumacher é uma espécie de Lance Armstrong da Fórmula1. Quem sabe um dia, a exemplo do que aconteceu com o americano por conta do doping, seus números artificiais também sejam cassados e ele seja eternamente banido do esporte, por conta das trapaças e falcatruas de que participou.


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