Daniel Campos

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07/11/2010 - Saudadeira

Saudade é tudo aquilo que a gente não consegue disfarçar. É fardo pesado de se carregar. Saudade do que já foi geme doído igual carro de boi. Saudade não é passageira, é matadeira de sonho e dor. Saudade é um tempo perdido, jamais esquecido ou banido do coração. Saudade é a terra nua vazia de plantação. Saudade é o choro que cai sem avisar, é o peito apertado e a certeza de que toda tristeza do fado caminha ao lado por onde passar.

Saudade é espinho encravado, é a distância de um olhar cruzado, é o passado que não passa. Saudade abre buraco na vida da gente igual goteira de canto de cumeeira. Saudade é um sentimento sem eira nem beira que vai tropeçando nas nossas próprias pernas. Saudade é o pássaro que canta em busca do canto cantado ontem, anteontem, trasanteontem. Saudade é cavalo xucro pulando no pasto, impossível de domar. Saudade é nó de boiadeiro, difícil de desmanchar.

Saudade é ter a alma marcada a ferro e brasa como se a vida não passasse de um gado de corte. Saudade é o caminho mais curto para o matadouro, é a fraqueza do forte. Saudade é a porteira fechada, a cara amarrada, a poesia enguiçada. Saudade não tem mato ou trato que dêem jeito. Saudade é o joio do trigo, o aboio mais triste do sertão. Saudade é chuva de vento borrando a paisagem do verão. Saudade é o diabo de deus, a fé dos ateus e dos homens, a pior tentação.

Saudade é bicho ferido, é canto partido, é a eterna colheita da judiação.


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