Daniel Campos

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04/12/2011 - Saudade infinda

Ah! Que falta me faz sua presença física, seu Líbio. Desde sua morte, ò meu avô, estou sem rumo certo, sem chão firme, sem sentido algum. É como se meu mundo, feito um castelo de cartas, viesse ao chão numa ventania. Devo confessar que até hoje eu não consegui juntar as cartas. Sem sombra de dúvida, o meu reino por um abraço seu. Um abraço de carne e osso. Meu deus, como é difícil tocar a boiada da vida sem tê-lo ao meu lado. Muitas porteiras se fecharam para mim depois da sua partida. E a saudade machuca mais do que arame farpado. Mesmo depois de tantos meses ainda consigo sentir seu perfume, escutar sua voz, adivinhar seus pensamentos.

Ah! Se ao menos eu tivesse em meu peito o seu coração de trator capaz de mover montanhas e de remodelar terrenos. O tempo cala mais fundo do que sete palmos de terra. Quantas floradas, quantas semeaduras, quantas colheitas eu perdi depois da sua tão prematura e incompreendida partida. Ferido, o amor grita como uma daquelas jandaias que costumavam sobrevoar sobre seu céu. O pranto é como água corrente. Eu que tantas vezes segui em seu colo agora caminho carregando feixes de lembranças. Nossos feitos, nossas conversas, nossos sonhos. Sigo com o cuidado de manter tudo isso muito bem vivo. Afinal, tento ser uma colagem de pedaços do senhor.

Ah! Seria capaz de fazer qualquer sacrifício para que o senhor pudesse por pelo menos um dia deixar de lado essa nova função de anjo da guarda para ser simplesmente meu avô. Tenho tantas coisas a dizer, a fazer, a saber. Uma delas seria comer uma bela pratada de torresmo em sua companhia. Hoje, sigo pela estrada que me sobrou tentando encontrar seus rastros, pisar onde seus pés já pisaram. Só eu sei o quanto eu procurei o saci, o boitatá, a mula-sem-cabeça nos últimos tempos para que eles me levassem até a sua morada encantada. Porém, parece que todos eles morreram com o senhor. Desde nossa despedida, meu avô, vivo colecionando as suas cantorias pelos pés de vento.


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