Daniel Campos

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01/10/2011 - Rosas de sangue e pólvora

Dos mortos de guerra, soldados-cadáveres, nascerão dúzias de rosas, de belas rosas de sangue e pólvora. Dos túmulos erguer-se-ão anjos de pedra em poses fotográficas, numa graciosidade mansa e cálida. Poetas e bêbados cantarão suas glórias sob uma lua pálida. Os heróis do combate serão responsáveis por tantas gravidezes póstumas, tantos filhos dos seus gritos de guerra. Da guerra renascerá uma nova terra, mais forte e com menos medo da morte. Os mortos de guerra escorrerão como rios perenes nas faces de suas mães, viúvas, irmãs, crianças. Os combatentes desaparecidos serão encontrados facilmente nas páginas das cartilhas escolares.

Os mortos de guerra, em franca decomposição, irão se deparar com a eternidade do bronze, da prata, do ouro das medalhas. Os soldados serão enterrados pela eternidade ao lado da castidade da Pátria pela qual morreram. Os mortos de guerra, mesmo com as bocas frias, ganharão doses de bebidas quentes oferecidas pelos recrutas. Os bravos combatentes, caídos no campo de batalha, terão invioladas suas fardas, livres de qualquer mancha. Os mortos de guerra, com seus pés finalmente livres dos coturnos pesados, poderão dançar pelas suas memórias livre de fuzis e trincheiras entre rosas, belas rosas de sangue e pólvora.


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