Daniel Campos

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02/07/2010 - Redação de um órfão

Minha mãe morreu quando eu tinha quatro meses. Ou melhor, foi morta. Brutalmente morta. Não consigo me lembrar de seu rosto, de sua voz, de seu perfume. É como se eu nunca tivesse tido uma mãe. Arrancaram-me dela quando eu ainda nem sabia quem eu era. Tiraram-me de seus afagos, de seu leite, de suas expectativas. Só a conheci por fotografias. Aliás, há muitas imagens de minha mãe nos arquivos de jornais, revistas, televisão e internet. Minha mãe era modelo, mas, pelo que já li sobre ela, sua morte teve uma repercussão muito maior do que sua carreira.

Meu pai? Minha paternidade foi discutida judicialmente por meio de um exame de DNA. Dizem que sou filho de um jogador de futebol de um time muito importante. Dizem que ele matou minha mãe, que por sua vez tinha se aproximado dele apenas para engravidar e assim ganhar uma gorda pensão. Outros dizem que ele a seduziu, prometendo mundos e fundos. Dinheiro. Fama. Amor. Amor? Dizem que não existiu amor desses que Machado de Assis tão bem escreveu. Dizem que não sou fruto de uma paixão avassaladora, mas de uma tremenda inconseqüência.

Quando a Justiça permitiu, fui criado por meus avós. E a história que eles me contaram sobre tudo é bem mais amena do que aquela divulgada pela mídia. Meu nome, por força da lei, não apareceu. Mas sempre estive presente nesse drama sendo chamado de filho de fulano, de incapaz, de criança... Cresci com vários labirintos e lacunas dentro de mim. Mas quem se importa com isso? Quem se importa da minha história ter sido escrita por escrivães da polícia, especulada por jornalistas, ganhado inúmeras versões nos tribunais?

Quem se importa com alguém que até hoje não sabe se é causa ou conseqüência de tudo isso?


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