Daniel Campos

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03/09/2008 - Ramadã

Adilah olha para o céu de Ramadã, perdido entre o dia e a noite, e navega por milênios no ar. Quando não consegue distinguir mais uma linha branca de uma linha preta no horizonte é o sinal do começo de mais um jejum. Assim como Adilah, mais de um bilhão de muçulmanos já se entregaram aos rituais do mês sagrado, onde quase tudo é proibido em nome do sacrifício, da reafirmação e da aprovação da fé. Ninguém come, bebe, fuma ou namora do nascer ao pôr-do-sol. É hora de lembrar o envio dos céus do Alcorão a Maomé como meio de salvação de um povo que ora cinco vezes ao dia, dá esmolas e vai a Meca ao menos uma vez na vida.

O nono mês do calendário lunar muda a realidade da Arábia Saudita, do Egito, do Kuwait, do Líbano, do Iraque e de muitos outros países, cuja maioria da população é islâmica. O jejum é lei, com exceção para grávidas, doentes, crianças e viajantes. Durante o Ramadã, o horário de trabalho diminui, bares e restaurantes fecham suas portas e ao cair da noite, os muçulmanos se reúnem com familiares para quebrar o jejum com uma oração e uma refeição chamada iftar. É hora de Adilah se fartar de tâmaras. Enquanto alguns aproveitam o avançar da madrugada para comer pela segunda vez, Adilah ora. Ora por ele, ora por sua gente, ora por todos.

É hora do Ramadã. É hora de fazer valer a tradição. É hora de ir à Mesquita. É hora de ficar longos minutos da noite orando o Taraweeh. É hora de adorar e se desligar das preocupações do cotidiano. É hora de dividir a riqueza com os mais pobres. E Adilah, cujo nome significa aquele que sabe repartir com justiça, reparte o pouco que tem com os outros. É hora de se cuidar. É hora de temer o Alcorão. Porque no Ramadã, os atos de mentir, caluniar, denunciar alguém pelas costas, jurar em falso, ter ganância ou cobiça multiplicam o valor dos pecados... E tudo o que Adilah não quer é caminhar no sentido oposto ao da palavra que plaina há milênios e milênios no ar.


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