Daniel Campos

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22/07/2012 - Pra chegar até aqui

Pra chegar até aqui é só espreitar o cheiro do café que ferve no fogão à lenha. Pra chegar até aqui é só espreitar o som casado das dez cordas da viola. É só espreitar o véu das nuvens ou o buque das estrelas. É só espreitar o vento que deita o capim. É só espreitar o trote dos cavalos no estradão. É só espreitar a florada da plantação. É só espreitar os barrados da chuva. É só espreitar causos que vão madurando como uva.

Pra chegar até aqui é só acompanhar o perfume do mato. Pra chegar até aqui é só acompanhar o rastro melado das abelhas. É só acompanhar os gemidos do carro de boi. É só acompanhar os bordados das moças. É só acompanhar o latido do cachorro brejeiro. É só acompanhar o serpenteio dos rios. É só acompanhar as asas dos pássaros do fogo. É só acompanhar o balé do tempo.

Pra chegar até aqui é só assuntar a prosa da lua caipira. Pra chegar até aqui é só assuntar pra que lado se dá o broto das sementes. É só assuntar a sombra de um chapéu de palha. É só assuntar o frigir de uma fritada de torresmo. É só assuntar a moda do galo sanfoneiro. É só assuntar as aboiadas pela estrada. É só assuntar a chama dos vagalumes. É só assuntar o amor sempre vivo e sincero que cresce nas campinas.


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