Daniel Campos

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25/09/2013 - Passarê

O bem-te-vi chegou dizendo que te viu, que te viu. O pardal chegou aos pulos, daquele jeito apressado de sempre. O sabiá chegou estufando o peito. O anu chegou já se dependurando na cerca. O pássaro preto chegou e foi logo se multiplicando pelo chão. O azulão chegou todo blue. O caboclinho chegou brejeiro arrumando seu espaço. O fogo-apagou chegou dando notícia do fim do fogo, mas cheio de fogo. O mutum chegou cheio de medo e ficou só na espreita. A gralha chegou querendo chamar atenção. A cigana chegou sem achar parada.

O joão-de-barro chegou com uma casa para terminar. O agapornis chegou formando um coração com sua alma gêmea. A viuvinha chegou chorando seu luto. A coleirinha, ao contrário do nome, chegou soltinha. O mandarim chegou tocando corneta. O tuiuiú chegou todo violeiro. O tico-tico chegou se acabando no fubá. O papagaio chegou cantando uma música que tinha escutado na vitrola. A calopisita chegou aos assovios e de topete arrepiado. O canário chegou estralando. O tucano chegou levando a solidão no bico.

O tesourão e a tesourinha chegaram dispostos a cortar o céu. O alma-de-gato chegou miando desesperadamente. O bigodinho chegou todo gaiato. A jandaia chegou buscando sementes em tudo quanto foi galha. O martim chegou pescador. O beija-flor chegou com o bico manchado de néctar. O cardeal chegou dando sermão. A taquara chegou tagarela que só. O triste-pia chegou espalhando tristeza. O galo da serra chegou amanhecendo. A arara chegou numa algazarra colorida de fazer inveja. O quero-quero chegou dizendo que te queria, que te queria.


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