Daniel Campos

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02/11/2010 - Os seus mortos

Chora por quem morreu, por quem se perdeu, por quem se esqueceu. Chora os mortos de carne e osso e os mortos de sonho e desejo. Chora por mortos conhecidos e também pelos desconhecidos, mas, sobretudo, chora pelos mortos que teve que enterrar. Neste dia dedicado aos mortos, faça uma lista de quantos sonhos você matou por necessidade e quantos sonhos você deixou morrer por omissão. Quantos futuros recém nascidos, já crescidos e até mesmo em fase de concepção morreram a partir de uma atitude sua?

Quantos tiros de misericórdia você disparou contra a própria felicidade? E contra a felicidade alheia? Quanta vida você deixou de cuidar por comodismo ou egoísmo? Quantas oportunidades você deixou secar por medo? Quanto você matou dos outros e de você por atos e palavras? Quantas doses de veneno deixou escapar? Quanto de alegria você matou para poder alimentar seu ódio, seu rancor, sua mágoa? Quantos finais felizes você decepou em nome de sua falta de amor? Amor alheio, amor próprio.

Quantas almas penadas vagam dentro e fora de você por sua culpa, por sua tão grande culpa? Quantos destinos você abortou por alguma razão mesquinha? Quantas promessas você ceifou a torto e direito sem acreditar na existência do juízo final? Quantas vezes você matou sem sequer perceber por ausência, por sofrimento, por desamor? De quantas mortes diretas ou indiretas você é autor ou cúmplice? Quantos fantasmas lhe habitam, lhe assombram, lhe apavoram?

Por tudo isso, chore no dia de hoje os seus mortos, sejam eles físicos ou não.


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