Daniel Campos

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29/12/2009 - Os meandros da manhã

Quando a manhã chegar eu hei de querer acordar junto a ti. E antes de qualquer palavra, vou ruborizar as maçãs de seu rosto com uma xícara de sol coado daquele jeito que você gosta. Ao contrário de lhe trazer jornais com aquelas notícias gastas e, quase sempre, inconvenientes, vou ler, ao pé de seu ouvido, alguns trechos de Garcia Marquez. E as uvas, ao invés de serem oferecidas em bandejas, serão dispostas sobre os lençóis de modo que possamos fazer nosso vinho matinal.

Já pedi para os pássaros que insistem em pousar na amendoeira cantarem uma sonata ou um soneto. Como eles vêem ensaiando às escondidas há meses, mais precisamente na rua de baixo, creio que vai se surpreender com o resultado. Também já encomendei um corte de seda javanesa para você se vestir para o verão. As janelas estarão devidamente entreabertas, de modo que você descubra o dia de hoje bem devagar, sem sustos ou quebras de expectativa.

A banheira, quando chegar a manhã, transbordar-lhe-á ao aroma de vinhos trazidos por um cargueiro italiano, cujo nome esqueci. Dizem nessas revistas especializadas que vinhoterapia é o tratamento da moda. Não era para contar, mas, o vaso que fica na sacada contará com punhados de gérberas de cores fortes que venho cultivando nos fundos do jardim. Já falei com os druidas daquele bosque que você ia quando criança e eles fizeram questão de estar aqui, pintando e bordando os meandros da manhã.


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